quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Venerável Ana de Guigné - 14 de janeiro

Uma tão grande alma para uma menina tão pequena 
    
     “Temos muitas alegrias na terra, mas duram pouco; a que permanece é a de ter realizado um sacrifício”. Palavras ditas por uma criança que viveu pouco mais de 10 anos! O intenso amor a Deus e aos outros dava aos seus sacrifícios um elevado valor sobrenatural. “Nada custa quando O amamos”, dizia ela, pensando na conversão dos pecadores e alívio dos doentes.
     A Venerável Ana de Guigné, a mais velha de quarto irmãos, nasceu em 25 de abril de 1911, em Annecy (Alpes franceses). Seu pai era o Conde Jacques de Guigné e sua mãe Antonieta de Charette. O Conde era tenente do 13º. Batalhão, Chambéry de Chasseurs Alpins. A avó materna de Ana Francisca Eulália Maria Madalena de Bourbon-Busset era uma descendente direta do sexto filho do Rei São Luís IX de França. A mãe de Ana era sobrinha neta do General François de Charette, um dos líderes da contra-revolução da Vendeia.
     Quando Jacques (Jojo) nasceu 15 meses depois de Ana, esta ficou enciumada, jogava coisas nos olhos do bebê, inclusive uma vez chegou a dar-lhe um pontapé. Felizmente isto não durou muito e logo ela se sentiu feliz por ser a mais velha. Os primeiros 4 anos de Ana foram difíceis: era muito difícil de controlar. Mas logo ela haveria de mudar.
     Em setembro de 1913 Madalena nasceu e em janeiro de 1915 Maria Antonieta. Ana era a madrinha de Maria Antonieta, que era chamada por todos de Marinete. Quando Ana tinha 3 ½ começou a guerra entre a França e a Alemanha, e seu pai foi enviado para o front. Um mês depois ele volta ao lar após grave ferimento. Ana, que amava imensamente seu pai, começou a cuidar dele trazendo-lhe livros e ajeitando as cobertas. Após nova ida para o front, ele é ferido ainda mais do que anteriormente. A Sra. Guigné vai visita-lo no hospital de Lyons levando Ana; a menina ficou comovida quando a mãe mostrou-lhe os soldados feridos.
     Em 3 de maio, sentindo-se melhor, o Conde partiu novamente para o front. Na Alsácia, em 22 de julho de 1915, de Guigné, após receber a absolvição, liderou o ataque com seu homens. Com um grande sinal da cruz o Conde foi morto. A notícia de sua morte foi dada a Sra. Guigné em 28 de julho.
     Naquela manhã a provada viúva conta para Ana que seu pai morrera. Chorando, ela disse para Ana: “Se você deseja me consolar, você precisa ser boazinha”. Olhando longa e pensativamente os olhos de sua mãe, a menina compreendeu que para agradar a Deus ela precisava ser boa e Ana resolveu ser boa para agradar sua mãe. O dia todo Ana ficou pensativa, tentando fazer as outras crianças se comportarem. “Você precisa ser bom, Jojo, porque a mamãe está triste”. Daí em diante não houve mais cenas temperamentais nem egoísmos. Mas esta grande mudança não foi fácil para Ana; embora ninguém adivinhasse a batalha diária com ela mesma, ela lutou.
     Quando Ana tinha 4 anos, ela estava caminhando com seu avô e eles passaram por uma armazém de trigo. Seu avô perguntou: “Ana, você sabe o que se faz com o trigo?” Ana respondeu: “Não, vovô”. “O fazendeiro apanha o trigo e então o moi e faz a farinha para nós. Nós usamos essa farinha para fazer pão e também as Hóstias que o padre nos dá na Missa. Você sabe o que a Hóstia se torna?” Ana respondeu: “O Pequeno Jesus vem e se esconde na Hóstia branca, que se torna Jesus”.    
     Um mês antes de seu pai falecer, Ana mencionara o desejo de se preparar para a 1ª Comunhão. No outono de 1915, a Sra. Guigné colocou-a na aula de catecismo dada por Madre São Raimundo no Convento Auxiliadora. A Madre São Raimundo percebeu que Ana, embora fosse uma criança de apenas 5 anos, era mais adiantada do que dos restantes alunos. “Eu logo vi que Ana era uma criança privilegiada; mas o que mais me causou admiração foi isto: os outros não tinham ciúmes dela, embora ela fosse mais inteligente do que qualquer um deles e a mais nova. Todos a amavam e a admiravam. Eu penso que é porque ela nunca tentou se exibir ou se fazer de melhor do que ninguém. Ela era gentil tanto com as crianças mais mimadas quanto com as que se comportavam bem”.
     A 1ª Comunhão foi para ela um farol que iluminou o resto da sua vida. Devido sua tenra idade (6 anos) necessitou uma licença especial; foi admitida ao sacramento após um minucioso exame que levou o padre inquiridor a confessar: “Não somente está pronta como desejo que vós e eu estejamos sempre ao nível de instrução desta menina”.
     Em 26 de março de 1917 Ana fez a 1a. Comunhão; era uma segunda-feira da semana da Paixão e festa de Nossa Senhora da Assunção, que fora transferida para este dia porque o dia 25 caíra no Sábado da Paixão. No grande dia festivo, Ana deixou um bilhete sobre o altar: “Meu pequeno Jesus, amo-Vos e, para Vos agradar, tomo a resolução de obedecer sempre!” Assim prometeu, assim fez…
     Ana tinha grande devoção a Nossa Senhora das Dores porque Ela era “Nossa Senhora da Consolação”. Este título ela deu a uma pequena imagem que havia no jardim, junto à qual as crianças brincavam. Ali ela ia para pedir ajuda quando o auto controle se tornava mais difícil.
     Aos 10 anos ela resolveu imitar Nosso Senhor em tudo: “Como eu farei isto? Combatendo todos os obstáculos que impedir Jesus de crescer em mim: minhas faltas, meu amor próprio, minha preguiça... Isto deverá ser um combate diário”. Ela fez estas três resoluções: “Eu preciso ter: 1) limpeza (de alma); 2) roupas apropriadas; 3) ornamentos – as boas ações”.
     Ana escreveu: “Minha alma destina-se ao Paraíso. As pessoas estão muito preocupadas com sua aparência exterior e dificilmente com suas almas... Minha alma foi feita para a vida eterna, para infinitamente feliz ou infinitamente infeliz. O Bom Deus deseja que ela seja eternamente feliz. Isto depende somente de mim. Mamãe não pode fazer este trabalho para mim”.
     Certa vez um incêndio destruiu um casa pobre próxima e Ana, ouvindo que a viúva e as crianças ficaram sem lar, pediu a sua mãe se eles podiam fazer um bazar. As quatro crianças prepararam um “chá” que foi “servido” para clientes como a mãe, o avô e tia Paula, que ficaram contentes de pagar um montante que as crianças logo encaminharam para a família da viúva.
     Em novembro de 1919, Ana escorregou no gelo e feriu um músculo de seu joelho. Ela ficou bastante machucada e tentava se erguer; sua mãe correu para ajudá-la, mas embora tivesse lágrimas nos olhos, não soltou um gemido. “Sinto muito por tê-la assustado, mamãe. Eu estou bem. Não é nada”. Um ano depois de ferir seu joelho ela começou a ter muita dor de cabeça. Para não chamar a atenção para suas terríveis dores de cabeça, Ana continuou a fazer os seus trabalhos escolares e outras atividades, mas finalmente algo chamou a atenção de Madre São Raimundo, que perguntou se Ana tinha dores de cabeça, ao que ela respondeu afirmativamente. 
     Ana pacientemente oferecia todos estes sofrimentos sem reclamar. A alguém que lhe disse: “Pobre Ana, você sofre corajosamente”, ela respondeu: “Oh não, eu não estou sofrendo; eu estou apenas aprendendo a sofrer”.
     Em dezembro de 1921 as dores de cabeça retornaram, mas o médico não pensou ser nada alarmante, pois ela não parecia pior, apenas um pouco mais calma do que o costume. Mas em 19 de dezembro de 1921, as dores de cabeça se tornaram tão severas, que ela foi levada para seu quarto. O médico continuou pensando que não era nada sério até que em 27 de dezembro, quando ele viu que Ana estava em coma concluiu que ela tinha meningite.
     Pela tarde ela recobrou a consciência, mas a terrível dor de cabeça, a febre e a dor nas costas faziam sua face se contorcer devida a dor. Ela resolveu: “Eu desejo oferecer meus sofrimentos como Jesus fez na Crus”. Com uma incrível fortaleza, ela nunca reclamava ou chorava. “Você está consolando Jesus e convertendo pecadores”, sua mãe lhe recordava. Ela respondeu: “Bem, então, se é assim, desejo sofrer ainda mais”. Ela foi ouvida dizer certa vez “O, querido Deus, eu estou muito mal!” Uma vez, quando ela estava delirando, ouviram-na gritar: “Eu fui fiel, Jesus? Pequeno Jesus, tenho medo de não ter sido valente. Eu não rezei o suficiente. Querida Santa Ana, tem piedade de meus pecados”.
     Aproximando sua morte, Ana nunca falava de sua morte próxima diante de sua mãe, para não causar sofrimento a ela.  Ana sempre agradecia aquele que tinha feito alguma coisa para ela. Quando o confessor vinha ouvi-la em confissão e lhe dava a comunhão, antes do padre deixar o quarto, ela o chamava e lhe agradecia.
     No dia 30 de dezembro, Ana recebeu a Extrema Unção. No Dia do Ano Novo ela parecia estar se sentido melhor. Mas dois depois o médico constatou que os músculos do peito estavam paralisados e Ana teria ataques de sufocação que duraria horas. Por duas semanas ela sofreu desta maneira e na noite de 13 de janeiro Ana pergunta a sua tia, que era religiosa: “Irmã, posso ir com os anjos?” “Sim, minha querida criança”. “Obrigada, Irmã. Oh obrigada!”. Às 5:25 do sábado, 14 de janeiro de 1922, Ana olhando obedientemente pela última vez para sua mãe, faleceu.
      Esta pequena menina é uma “santa”, é o veredito geral. A sua professora deixou o seguinte testemunho: “Foi ela que me ensinou o que é amar Deus”.  Os testemunhos abundam, artigos são publicados e o bispo de Annecy inicia em 1932 o processo de beatificação.

     Os estudos conduzidos em Roma sobre a possibilidade da heroicidade das virtudes da infância foram concluídos positivamente em 1981 e a 3 de março de 1990 o decreto reconhecendo a heroicidade das virtudes de Ana de Guigné e declarando-a venerável era assinado pelo papa João Paulo II e indicou-a como exemplo para todas as crianças e não só elas.
Ana aos 9 anos, imagem da inocência

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