quinta-feira, 4 de julho de 2019

Venerável Antonieta Meo, a “Nennolina”, pequena grande mística – 3 de julho

     
     O câncer não a deixou chegar aos 7 anos, mas o amor por Jesus e Maria lhe deu forças para viver com incrível profundidade um desafio extraordinário. Antonieta Meo, chamada carinhosamente de “Nennolina”, poderá tornar-se a santa mais jovem da Igreja, excetuando-se os mártires: ela tinha apenas 6 anos de idade quando faleceu devido a um câncer.
     Antonieta Meo nasceu em Roma (Itália), no dia 15 de dezembro de 1930, numa família abastada. A casa da família Meo está a poucos passos da Basílica da Santa Cruz de Jerusalém. “Minha irmã”, diz sua irmã Margarida, “era uma menina alegre, inquieta e travessa, assim como todas as crianças dessa idade”. Aos três anos, em outubro de 33, frequentou o jardim de infância das religiosas que está a dois passos de sua casa. “Ia de boa vontade”, conta sua irmã, “e frequentemente quando brincávamos juntas dizia: 'Eu me divirto muito na escola … iria até de noite!'. Apegou-se à professora e as freiras diziam à minha mãe: 'Não há quem a detenha! Mas é muito esperta e aprende rápido. É uma menina madura para a idade que tem'”. Dois anos mais tarde inscreveram-na na Ação Católica Italiana, no grupo das mais pequeninas.
     Aos 5 anos, a pequena sofreu uma queda e machucou um joelho, que ficou consideravelmente inchado. Os dias passavam e a menina não melhorava. Os médicos, que no começo não entenderam a natureza do problema, acabaram diagnosticando osteossarcoma, ou câncer nos ossos, e tiveram de lhe amputar a perna, em 25 de abril de 1935.
     Nennolina passou a usar uma pesada prótese ortopédica, mas nunca se desanimou nem deixou de continuar brincando com as outras crianças apesar da muita dor que sentia. Já nessa tenra idade, ela tinha um conceito do valor do sofrimento, incompreensível sem a graça de Deus.
     Aos 6 anos, a menina começou a ir à escola com a prótese que lhe causava muitos transtornos e uma dor intensa, mas oferecia tudo a Jesus: “Cada passo que eu dou, que seja uma palavrinha de amor”, dizia. No dia do aniversário da amputação, quis celebrar com um grande almoço e com uma novena a Nossa Senhora de Pompeia, porque foi graças a esse acontecimento que ela pôde oferecer seu sofrimento a Jesus.
     Quando encontrava um pobre, queria oferecer-lhe os vinténs de que dispunha. Gostava de frequentar a escola e o catecismo, e a Jesus assim escrevia: “Vou com entusiasmo, porque aí se aprendem muitas coisas bonitas sobre Ti e teus Santos”.
     Esses encontros de instrução na fé são aproveitados por Antonieta para primeiro ditar à sua mãe e depois a escrever suas cartas que a cada noite colocará debaixo de uma imagem do Menino Jesus “para que ele viesse de noite para ler”.
     “Começou como uma brincadeira”, diz sua mãe no processo, “quando lhe disse que escrevesse uma carta à madre superiora das freiras que a educavam para pedir-lhe permissão de fazer a primeira comunhão em sua capela na noite de Natal. Assim que, muitas vezes, de noite, depois de rezar a oração ao Anjo da Guarda, Antonieta acostumou-se a me ditar 'poesias' (assim ela chamava), primeiro para mim, depois para seu pai e Margarida, em seguida para Jesus e a Virgem. Pegava o primeiro pedaço de papel que encontrava e não parava de escrever o que ela me ditava, sorrindo, indulgente com o que me ditava com tanta simplicidade e segurança”.
     A primeira carta está datada de 15 de setembro de 1936. A partir de então, suas cartas se sucedem, expressando um amor simples, terno e infantil a Jesus, Maria e seus pais; mas ao mesmo tempo uma clara consciência, assombrosa em uma menina de sua tenra idade, de quem é Jesus e como O segue pelo caminho da dor.
     Assim, para surpresa de sua mãe, Nennolina escreverá como as grandes santas do sofrimento, pedindo que lhe concedesse almas para poder salvá-las. “Via que a menina sabia se expressar muito melhor do que eu pensava”, diz sua mãe, “mas acredito que seja inútil dizer que em casa não davam a menor importância a estas cartas que se deixavam em qualquer parte e muitas se perderam”.
     Antes de aprender a ler e escrever, ela havia ensaiado suas primeiras palavras escritas com a ajuda da mãe: os nomes de Jesus e de Maria.
     Em suas cartas, falava à sua querida Nossa Senhora, ou “Madonna”, em italiano, com muito afeto e emoção: “Querida Madonnina, a senhora é tão boa! Pega o meu coração e leva para Jesus”. Nennolina compreendeu o sofrimento de Maria por seu Filho e escreveu: “Querido Jesus… Para ti, que sofreste tanto na cruz, eu quero oferecer muitas florzinhas e quero estar sempre no Calvário bem pertinho de ti e da tua mãezinha” (28 de janeiro de 1937).
     Antonieta escreveu a Jesus 105 cartas, e outras a Maria Santíssima, a Deus Pai, ao Espírito Santo, uma à Santa Inês e outra à Santa Teresa do Menino Jesus. Sempre pedia a Jesus a ajuda de sua graça; não deixava nunca de pedir a Ele e à sua Mãe a graça para os que a rodeiam, para quem se encomenda a suas orações e para os pecadores. Colocava sua própria assinatura e escrevia assim: “Antonieta e Jesus”.
     Nennolina se dirige a Jesus e Maria com ternura confiada. Suas cartas terminarão sempre com abraços, carícias, beijos dirigidos a seus destinatários celestiais. E desta confiança são testemunhas também as freiras, que muitas vezes viram a menina antes de sair da igreja aproximar-se ao tabernáculo e exclamar: “Jesus, vem brincar comigo!”. Escreverá também em suas cartas, desejando tê-lo sempre por perto: “Querido Jesus, amanhã venha para a escola comigo”. Nos meses que a separam da Noite de Natal suas cartas expressarão todo seu amor por Jesus e o ardente desejo de recebê-lo em seu coração. Conta sem cessar os dias, as horas, os minutos.
     Na noite do Natal de 1936 recebeu com ardor a primeira Comunhão. Naquela noite de Natal, apesar do aparelho ortopédico causar dor, os presentes a viram no final da missa permanecer mais uma hora ajoelhada, quieta, com as mãos juntas.
     Poucos meses depois, em maio de 1937, ela recebeu a Confirmação. “Depois da Confirmação, Antonieta começou progressivamente a piorar. A fadiga e a tosse não lhe davam trégua. Não conseguia se manter sentada e teve que ficar de cama. Estava sofrendo, mas dizia sempre a todos, inclusive a mim: ' Estou bem!'. Às vezes com grande fadiga, mas queria rezar suas orações de sempre da manhã e da noite. Pediu então que o sacerdote lhe trouxesse a comunhão todos os dias, e as horas que seguiam a comunhão eram cada vez mais tranquila”. […]
     “Enquanto podia, também me pedia que escrevesse suas cartas”. A última está datada de 2 de junho. Esta carta terminará nas mãos de Pio XI. “Alguns dias depois, veio visitar Antonieta o professor Milani, primeiro médico pontifício, chamado pelo Dr. Vecchi para uma consulta. ... Meu marido falou-lhe das cartas que ela escrevia. Pediu para ver a última e eu não me atrevi a negar-me. Peguei a carta que havia deixado naquele dia e a mostrei. Ao lê-la disse que queria falar ao Santo Padre sobre Antonieta e pediu permissão para levar a carta. Respondi titubeante: “É que … não sei … se …”. “Mas, senhora”, disse, “trata-se do Papa!”.
     A amputação da sua perna não bloqueou o tumor, que se difundiu e chegou à cabeça, à mão, ao pé, à garganta e à boca. Tanto as dores da enfermidade como os tratamentos com que se procura curá-la eram muito intensos.
     Embora a sua dor fosse ficando cada vez mais violenta, Nennolina parou de se lamentar. Uma religiosa enfermeira da clínica onde ela se tratava testemunhou: “Certa manhã, enquanto ajudava a enfermeira a arrumar o quarto da criança, entrou o pai dela, acariciou a menininha e lhe perguntou: ‘Você está com muita dor?’. E Antonieta respondeu: ‘Paizinho, a dor é como o tecido; quanto mais forte, mais valor tem’. Depois a religiosa acrescentou: “Se eu não tivesse escutado isto com meus próprios ouvidos, não teria acreditado”.
     Nos dias seguintes, com incrível fortaleza continua sorrindo até para as enfermeiras que vão medicá-la, apesar da metástase ter invadido e despedaçado seu corpinho, apesar da massa tumoral lhe oprimir o peito até o ponto de deslocar o coração.
     Todos testemunharão no processo o desconcerto perante sua extraordinária serenidade. O pai diz no processo: “Um dia, já muito grave, decidi que administrassem em minha pequena a Extrema Unção. Perguntei a Antonieta: 'Sabe o que são os santos óleos?'. 'O Sacramento que dão aos moribundos', respondeu. Eu não queria perturbá-la, então acrescentei: 'Às vezes traz a saúde do corpo…'. Antonieta negou-se. 'É muito cedo', disse, e eu não insisti. Mas quanto mais tarde o sacerdote lhe disse que os santos óleos aumentam a graça, Antonieta, que escutava atentamente, respondeu: 'Sim, eu quero'. Respondeu com tranquilidade a todas as orações, rezou a contrição, em seguida deu as mãozinhas abertas para que o sacerdote as ungisse. Beijou com ternura o crucifixo de sua primeira comunhão. Tudo aconteceu com simplicidade de paz”.
     Estava amanhecendo aquele 3 de julho de 1937 quando seu pai se aproximou para ajeitar o travesseiro e, ao se aproximar para lhe dar um beijo, Antonieta sussurrou: “Jesus, Maria… mamãe, papai…”. “Ficou olhando fixamente diante dela…”, lembra sua mãe. “Sorriu, então exalou um último e longo suspiro”.
     Era um sábado, dia da sua “Madonnina”. Seu corpo está hoje na Basílica da Santa Cruz, em Roma, na qual está representado, aliás, o Calvário de Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Foi declarada Venerável pelo Papa Bento XVI no dia 17 de dezembro de 2007. Sua vida constitui uma testemunha da santidade de todas as crianças que sofrem.

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